quarta-feira, 31 de março de 2010

Gravando um disco - perte 6

"Só" e "O que eu não vi em mim".

“Só” de sozinho, é claro. Mas pode ser compreendido no sentido de “apenas”. Pensando aqui com meus botões acho que um duplo sentido não seria absurdo. É óbvio que isso é assunto para o compositor esclarecer e espero que ele o faça no espaço reservado para os comentários.
O obvio esbarra na solidão do personagem diante da situação em que ele se encontra. Também podemos imaginar o personagem falando que há apenas ele, num modo bem Yoda de falar as coisas. Seria um acesso de humildade perante o amor próximo? “Só há eu”. Em outras palavras, “e eu, só!”.
Que doideira.
Publio demora, mas chega. Sempre digo:
- E aí, quando é que vai trazer mais alguma coisa?
- Estou trabalhando nisso.
Seis meses depois ele mostra a música. Quando resolve mostrar, é porque já tem começo, meio e fim. “Só” é um seis por oito rápido, bem chatinha de segurar o andamento. No fim ela vira um três por quatro (na ótica das guitarras) fundida com o mesmo seis por oito (na ótica da cozinha), numa seqüência linda de notas – Si Menor, Mi, Lá e Fá sustenido maior com sétima – tenho de dizer, seqüência dada por mim. Nada muito inusitado. Pra falar a verdade é uma seqüência bem óbvia e usual. O que me fascina é que o refrão começa com uma nota menor e termina em uma nota em sustenido, tanto na parte feita pelo Publio quanto na feita por mim. Músicas com seqüências assim fazem minha cabeça – é o que algumas pessoas adoram dizer quando falam que nossos gostos (meu e o do Oito Mãos) se espelham muito em Beatles e Los Hermanos. Olha, deixando isso claro aqui: somos loucos pelos Beatles e achamos o Los Hermanos a melhor banda nacional nos últimos 10 anos. Isso é unânime na Oito Mãos. Só que, em primeiro lugar – tudo, absolutamente tudo, que é rock and roll lembra os Beatles; em segundo lugar é que os compositores que usam notas dissonantes não são exclusivamente os Los Hermanos e a batida de Pretty Woman não foram os Los Hermanos quem inventaram. O que quero dizer é que uma comparação deveria ter um bom fundamento.
Há uma coisa intrigante no processo de mostrar canções novas um para o outro na Oito Mãos. É mais ou menos assim: O compositor avisa, quase ao nada, que fez uma música nova. Eu sou sempre (quase sempre) quem pára pra ouvir a música e o meu trabalho é ir já “sacando” o som. Quando a banda está disposta eles param o que estão fazendo para ouvir a música nova do companheiro. Quando a banda não está disposta não há refrão que os faça calarem a boca.
No dia que Publio mostrou “Só”, todos calaram suas bocas e ficaram com os olhos ligados, babando. Publio sentou-se com sua guitarra Jaguar desligada e cantou baixinho – do jeito que sempre canta ao mostrar algo novo – e nesse mesmo momento fizemos a seqüência final de notas já mencionada.
O restante da coisa rola nos ensaios. Essa faixa foi a que mais deu trabalho para o nosso Ringo, pois de alguma forma ele não entendia o seis por oito – corria demais ou atrasava demais. Na hora de gravar foi tenso, mas André sempre dizia:
- Relaxa Adhemar. Não estamos pagando a hora do estúdio.
Deu trabalho, mas rolou. E como rolou! Acho estupendo (pra não falar um palavrão) o uso dos tambores e do chimbal na ponte da música em “já posso aceitar a dor...”. Foi divertido mixar esse momento e perceber o espectro estereofônico dos ton-tons quando eu os separei em pan – um para cada lado das caixas. Ponha um fone de ouvidos e ouça os tambores bem soltos em suas afinações, migrando de um lado a outro, com a acentuação no chimbal. Foda!

“O que eu não vi em mim” foi um parto. Sempre me dava a impressão de que faltava alguma coisa. Tentamos de tudo. Nos ensaios ela simplesmente não rolava. Quando o Publio apareceu com ela, eu disse imediatamente que faltava um refrão. No ensaio seguinte lá estava o refrão.
Se não fosse a crença e insistência do Publio depositada nessa música, acho que ela não teria entrado para o set list de Vejo Cores.Bier me disse, numa das conferências da masterização, que a música havia ficado linda, e disse exatamente assim pra mim:
- E pensar que quase a deixamos de fora...
Resolvemos, então, grava-la para ver no que ia dar. Deu certo.
A intro na bateria é crédito do Adhemar. Alguém sugeriu que ele usasse o surdo ao invés do ton.
O chato dessa música – que só fui perceber quando gravamos as guitarras – era que todo mundo tocava ao mesmo tempo, resultando uma insuportável bagunça. Quando se grava, temos uma maior dimensão da coisa.
Quanto ao teclado, nós tínhamos o som de piano – piano demais vira Coldplay, como alguém citou em algum site dizendo que “Claire” parecia “The Scientist”, é interessante como as pessoas interpretam e recepcionam a música em pontos de vistas diferentes – e usei um órgão, acompanhado de uma guitarra levemente distorcida na base rítmica somada com os segredinhos do André. Publio só começa a tocar em “confesso que me acostumei”.
Depois o espectro das guitarras de desloca. Há a fabulosa guitarra “Ximbinha”, swingada, com Adhemar dobrando o chimbal em “nem tudo o que eu faço é...”.
Depois que virei fã incondicional de Pink Floyd e Radiohead é que fui entender a introdução de alguns elementos eletrônicos no rock. Não vou entrar no mérito da discussão da música eletrônica – embora meu Twitter já revelou o que eu acho sobre uma parte desse segmento. O fato é que o refrão e no fim dele há aquele sintetizador calçando uma porrada na nossa cara. Aquele momento sombrio no fim do primeiro refrão, em Fá Sustenido, lembra “Sweet Dreams”.
Enfim.
São duas canções intrigantes. A primeira pode ser encarada como a mais pop do disco. A segunda como um rock onde a gente ousou e experimentou – muito! – enquanto apertávamos o rec.

Felippe Pompeo.

terça-feira, 16 de março de 2010

Como surgiu a Oito Mãos

Sinto estar em débito com vocês. A sentença que acabam de ler tem caráter ambíguo e deve ser interpretada em ambos os sentidos. Por isso, glorifico-me com a redenção desta postagem, na qual explorarei o início da banda e o por quê de se tornar independente, quando a execução de covers se mostra mais lucrativa.

A Oito Mãos não surgiu assim desde o início. Várias mãos passaram por aqui até a final composição: André Stradiotto Matins e Tiago Saura foram dois importantes personagens que, por circunstâncias da vida, não puderam estar conosco na atual empreitada.

Felipe Bier e Leandro Publio também já se aventuraram por outras bandas. Tocaram em casamentos e partilharam do comum – e necessário – início de qualquer banda: a execução de músicas cover.

Como a postagem é minha, falarei da experiência que partilhei. E começo minha jornada nos idos de 2000, quando cursava o 1º colegial juntamente com o Bier. Lá, um amigo em comum – André Stradiotto – fez despertar em nós o gosto pela música. Não que nós não a apreciássemos, mas não nutríamos interesse – na ocasião – por aprender a tocar um instrumento: eu queria ser advogado e o Bier, médico.

André nos levou a lojas de música em Campinas, onde tomamos contatos com vários instrumentos. Porém, em determinado dia, recordo-me de ter sido por ele surpreendido no meio de uma aula – salvo engano, de literatura –, onde bradou: “Adhemar, cê vai tocar batera”.

Fiquei com aquilo na cabeça... admirava o instrumento, mas nunca pensei em toca-lo. Minha mãe tinha violão e piano em casa e minha família é daquelas que acha que “bateria é coisa de louco”. No entanto, era o que eu queria.

Nesse mesmo momento, surgia em nós uma paixão quase que incondicional pelo grunge de Seattle – especialmente pela banda Nirvana. Sob influência do André, claro, ficamos “viciados” nas músicas do power trio Kurt, Chris e Dave. Só precisávamos adquirir nossos instrumentos.

Com o Bier a coisa foi mais fácil: ganhou um baixo Washburn e um amplificador Meteoro Thor na mesma semana. Eu, porém, enfrentei a insatisfação familiar pelo instrumento escolhido, percebendo que minha jornada seria um pouco mais difícil.

Assim, alguns meses depois, juntei uma (pequena) grana e comprei uma batera LIXO (lixo MESMO, do tipo que a gente joga FORA). Não tinha marca e nem peles de resposta. A caixa era Odery, de madeira, mas com afinações “de bicicleta”. O pacote incluiu, ainda, uma máquina de cymbal com os hi-hats absolutamente deploráveis. Mas eu estava feliz! Feliz por ter comprado a batelixo com O MEU dinheiro e feliz por enfrentar o preconceito dentro de casa.

Botei a monstruosa no meio da sala (morava em apartamento, na ocasião) e tocava todos os dias – mais pra mostrar a meus pais que não era “fogo de palha” do que pra praticar alguma coisa. E eles se convenceram de que aquela minha vontade não era passageira.

Minha sorte é que a batera era muito feia e muito ruim, o que acelerou o processo de sua substituição por minha atual Premier XPK Birch – presente de minha mãe. Ela foi utilizada em shows com as bandas pelas quais passei, bem como na gravação do “vejo cores nas coisas”.

Com os instrumentos, montamos a banda no final de 2000. O nome sugerido era ridículo para uma banda que se prestava a tocar as músicas do Nirvana: “Kaya”. Mas durou uns anos, até que crescemos, evoluímos e... nos separamos!

Entre indas e vindas, montei com outros garotos uma banda cover de Beatles, conhecida como “Silverbeetles”, até hoje bastante atuante. Não sei qual a atual formação, mas era muito boa na minha época. Tinha um garoto que era um verdadeiro gênio musical e outro que nos obrigava a ensaiar com MUITA DISCIPLINA – o que foi muito bom, pois criava na gente senso de responsabilidade musical e deixava as músicas redondinhas.

Ao mesmo tempo, tentava montar uma banda com projetos próprios com o Bier e com o Publio – que já era também, na ocasião, meu amigo-irmão.

Em determinado dia, por volta de 2004 ou 2005, deixei a Silverbeetles mais por estar de saco cheio de fazer cover do que qualquer outra coisa. Alguns me chamaram de maluco – visto estar a banda começando a chamar a atenção do público –, mas eu sou daqueles que acha que nós temos de correr atrás de nossos sonhos – e a minha “fase cover” tinha definitivamente passado.

Assim, foquei na banda com o Bier e Publio: procuramos integrantes que partilhassem nossos gostos musicais e, depois de muito tocar Oasis e Coldplay, encontramos o maluco do André Leonardo via Orkut: nascia o que hoje é a Oito Mãos.

O ano era 2005 e propusemos a criação de uma banda para trabalho próprio. Em pouco mais de quatro meses, gravamos um álbum/EP/demo com 08 músicas, chamado “inverno inusitado”. Inverno porque foi gravado em julho, e inusitado porque foi uma verdadeira atipicidade na vida de todos nós. E ficou legal – esteticamente falando. Em resumo: a idéia era boa, as músicas eram boas, mas a gravação foi ridícula. Não tínhamos experiência e o estúdio – que abstenho de citar o nome – muito, mas MUITO ruim.

Assim, não obtivemos retorno nenhum com o “trabalho”, até que o Pompeo nos ouviu sei lá como e notou algum potencial na banda. Nos conhecemos na padaria da esquina da rua do André, onde ensaiamos até hoje. E ele, com aquele jeito arrogante/fodão de ser, se tornou nosso amigo e acabou que hoje nos produz, gravando, compondo e tocando com a gente.

Desse casamento, surgiram nossos singles “sei lá”, “guarde a última dança”, “história de outra vez” – regravação do “hit” que constava no “inverno inusitado” – e “grave lacuna” – com a qual vencemos importantes festivais.

Gravamos, durante o ano de 2009, o disco “vejo cores nas coisas”. Nossa intenção – sem querer transbordar arrogância, mas justificando com o fato de não ser nossa pretensão o sucesso e o reconhecimento – foi fazer músicas que nós gostaríamos de ouvir, e não agradar ninguém. Assim, pode ter a certeza de que isso que você ouve em “vejo cores” é exatamente o que queríamos que estivesse ali, pois gostamos de tudo que fizemos.

Acho que falo pela banda toda quando digo que nos sentimos muito gratos com a repercussão do disco, não por querer fazer sucesso ou ser notados, mas por saber que tem mais gente por aí que pensa como a gente. Isso é muito bacana e gratificante, pois aquela sensação de vazio e insatisfação com tudo que a mídia nos “obriga” a ouvir não é um evento isolado nos sentimentos somente da Oito Mãos. E isso nos fortalece – tanto para compor e executar as músicas, quanto para gostar daquilo que fazemos – que é, tenha certeza, de coração.

Adhemar.

domingo, 14 de março de 2010

Fazendo um disco. Parte 5

ALGUÉM OU NINGUÉM?!

“Alguém” é uma das faixas mais antigas de “Vejo Cores Nas Coisas”. Uma música da época de “Sei Lá” e “Guarde a Última Dança”.
A primeira vez que a ouvi tive a mesma impressão que eu (interpretava) via no olhar das pessoas que ouviam a canção em uma apresentação da banda: aquele olhar de “que isso”?

“Alguém” é um esporro aos ouvidos. Uma porrada de mão fechada que te pega de surpresa bem no meio do estômago. Uma falta de ar, uma perda de raciocínio. Uma mistura de sentidos, dos pés à cabeça, dos olhos à boca, do coração ao pulmão. Dá vontade de ouvir de novo, mas o disco continua a partir dela.
Os mais sensíveis aos decibéis, não se esqueçam de levar tampões de ouvido numa eventual apresentação da Oito Mãos ao vivo.

Uma letra simples, porém impactante. “Alguém? Para amar... Cuidar, sonhar, proteger (...) deve existir. Alguém? VOCÊ!” – BUM! Esse “você” resume poeticamente o que o personagem da canção quer dizer, embora não saibamos exatamente quem é “você”, pois dá uma certeza absoluta de que não é com você, leitor e ouvinte, que o personagem está falando com a pessoa ao lado, ou seja lá quem for.

Deve ser uma pessoa ou um ser tão forte e absolutamente significante que cabe a
mim, a você e a todos nós juntos – do jeito que John Lennon canta em “I Am The Warlus”. Esse “você” é forte, depois de um lindo chá lá lá lá lá; é tão afortunado de emoções...

Confesso de que não lembro quando foi que tive a ideia de abrir o disco com essa, descartando de vez a hipótese de abrir com “Passarinho”.
Um dia fomos ao estúdio para mais uma sessão de gravações. Deveríamos estar um pouco entediados ou sem inspiração. O fato é que ficamos jogando tempo fora descobrindo os sons loucos que o teclado Roland Juno G proporcionava.

Empolgados com os sons, abrimos uma sessão no Sonar e gravamos um sarro que chamamos de “A de Adhemar”. Essa faixa só a gente ouviu. Rimos até a piada perder a graça. Ligamos um de nossos microfones MXL e fizemos uma evocação do ridículo que existe em cada um de nós. André imitou o Michael Jackson somado com um tal de IKY WIKY, Publio cantou “bum chacalaca” e Bier imitou o primo It da Famlila Adams. Eu cagava de rir. Adhemar não estava presente nesse dia, então dedicamos essa “música” para ele.

Claro, isso foi apagado. Devo ter os waves no HD, mas nem adianta me pedir para ouvir.

Ficamos com isso na cabeça. Uma faixa experimental. Então levamos a coisa a sério e criamos a faixa “Ninguém”. Peguei a guitarra Fender e afinei em Ré. Liguei ela no DD3 do Publio direto no meu Hot Road Deluxe. Fui tocando qualquer coisa. Depois adicionamos sintetizadores do maravilhoso teclado já citado. Depois demos um microfone pro Adhemar falar a palavra “Ninguém”.

Ficamos empolgados e ligamos um rádio sintonizado em qualquer emissora. Apertamos o rec, eis que surge José Serra falando o que você ouve, depois de uma locutora dando a chamada da entrevista.

No processo final,já nos últimos dias de mixagem, quando ela já estava na parte divertida, o fim, começamos a brincar de novo em “Ninguém”.

Abri a sessão de “Claire”, selecionei a voz do Bier em “Se os astros e o universo convergem aqui” e coloquei de trás pra frente.
Cagamos de rir. A coisa era sinistra e genial. É a primeira coisa que você ouve no disco.
Depois colocamos a minha voz em “os pés”, de “Encontro de Almas”, e fizemos o mesmo processo.
Pegamos “já posso aceitar a dor” do Publio em “Só”, e também retrocedemos.
Tudo nessa ordem. O André pediu para fazer o mesmo com a voz dele, mas eu neguei o pedido, alegando que já tinha muita voz dele no disco. Ele achou justo.

FOI ENTÃO, depois de ouvir o Serra, que achei que ia ficar perfeito o riff de “Alguém” comer solto.

Só não me lembro a ordem em que tudo isso se formou. Sei que “Ninguém” tem esse nome porque sabíamos que ela antecederia “Alguém”. Que seja... o fato é que a ideia de abrir o disco com “Alguém” veio no momento da bagunça de “A de Adhemar”.

Pompeo.

domingo, 7 de março de 2010

Fazendo um disco. Parte 4

MIXAGEM

Pompeo, essa voz tem que ter um som de areia! Como se eu tivesse cantando dentro da areia, saca?” – André, sobre a voz de “Verniz”.

Meu amigo Fábio Boto me disse certa vez que a mixagem de um disco não se conclui, a gente simplesmente desisti. Outra pérola dele é a famosa frase “o não nós já temos”.
Em primeiríssimo lugar deixo claro que estou satisfeito com o resultado final de “Vejo Cores nas Coisas”. Abusei do não usual sabendo que a banda é apaixonada por coisas não usuais.
Para quem não sabe, mixagem é um termo abrasileirado para a palavra inglesa “mix”, que quer dizer “mistura”. Uma música é composta por alguns elementos básicos: bumbo, caixa, chimbal, tom 1, tom 2, surdo, over (pratos e altas da batera) – guitarra do André, guitarra do Publio, baixo do Bier, voz. Não sei se o leitor contou, mas somam onze elementos. Mas não ache que uma música da Oito Mãos tenha menos do que onze ou um pouco mais. Estimo que a média de elementos no disco seja de uns 38 – 12 só de vozes.
O conceito, então, é pegar todos esses elementos e misturá-los, de modo que tudo soe perfeitamente em seus ouvidos, desde em caixas equipadas de RMS e PMPO até seus fones de ouvido de MP3 player (para os pobres) e I-POD (para os afortunados). Ah, há também as medíocres caixinhas de som de celulares de hoje em dia, que costumo comparar com os radinhos à pilha de 15 anos atrás.
Eu sempre digo que um bom disco soa bem em qualquer lugar, em qualquer mídia e em qualquer formato – até mesmo no My Space, que “rouba” o brilhantismo de uma gravação. Pra quem não sabe (esse blog é destinado aos que não sabem. Aos que sabem, suas críticas são bem vindas, contando que seguidas de boas e úteis sugestões) a taxa de bits do formato MP3 caga em cima de um áudio. É como pegar uma foto do tamanho de 10 megapixel e transformá-la em uma foto de 2 megapixel para enviar por email. Tente revelar essa foto (pois o tamanho reduzido só te interessa para ser visualizado na tela do PC) e verá que o resultado é lamentável.
A mesma coisa acontece com os formatos de áudio reduzido (entende-se comprimido) conhecido como o revolucionário MP3. Depois que a música foi digitalizada, desde a captação usando computadores até a distribuição usando os Compact Discs (CD), o formato digital é o Wave, que tem alguns tipos de variações, mas vamos nos contentar com o Wave taxa de 16 bits. Esse Wave foi transformado em MP3. O arquivo (música, wave) que tem o espaço de 12 megabytes aproximadamente vai ser reduzido para uns 2 megabytes, com taxa de bits de 128 kbps (mp3). Que isso quer dizer? Quer dizer que você pega uma coisa grande e transforma em pequeno, matando o áudio.
Dito isso, volto ao ponto da boa mixagem. Ela tem que soar bem em todos os meios de audição. Fazer o quê... É o progresso.

É claro que todo o disco é um processo somatório: os músicos, as vozes, os microfones, os técnicos de som, os mixadores, os masterizadores, o estúdio. “Vejo Cores” é o resultado maior do que conseguimos fazer no momento.

Antes de iniciar minha árdua tarefa de mixar “Vejo Cores”, pedi auxílio para o cara citado no início do post. A forma mais sensata de fazer isso foi convidando o Fábio para mixar meu disco, “Esperanto”, que também foi gravado no Câmara de Eco. Com o Boto aprendi alguns conceitos que nem imaginava existirem. Surgiram dúvidas e esclarecimentos.
Feito isso, o grande trabalho seria agradar os ouvidos exigentes de Leandro Publio, André Leonardo, Adhemar Della Torre e Felipe Bier – malas ao extremo; e, claro, os ouvidos do mais mala de todos os tempos: eu.
A coisa foi simples: achar o volume e timbrar as peças da bateria, somar e equalizar o baixo, somar guitarras cortando os graves desse instrumento fabuloso, colocar as vozes em seus lugares.
Só que a coisa em si fica sem espírito se você se contentar apenas com a coisa. É aí que entra o espírito da coisa: a arte.
Li o “Guia de Mixagem”, de Fabio Henriques, que o grande Gustavo Missola me emprestou, onde o autor dizia que uma mix pode ser bastante artística – mas que com certeza não ia tocar na rádio. Cito como exemplo o Sgt. Pepper (dos FAB) e Meddle (do Pink Foda) como exemplos de mixagens abusadas no quesito “arte”.
Não vai tocar na rádio? Ótimo. Vi que eu estava no caminho correto, pois a Oito Mãos nunca teve a pretensão de tocar na rádio – acho que porque a rádio está atualmente um pouco banalizada. Mas a gente não sabe nada, tendo em vista que o Los Hermanos subiu no palco do Faustão. Mas, Pompeo, eles não tocaram Anna Júlia!

Se você prestar atenção, verá que a bateria de “Encontro de Almas” está toda do lado esquerdo do campo estéreo da mixagem; verá que há uma voz fininha acompanhando o vocal do André em “Na Sua Casa”; descobrirá um chorus na voz de “Verniz” em “e eu, e eu, eu sou um homem só”.
Poderá ouvir, também, os delays de “Alguém” nas vozes (esse em particular uma feliz viagem do André); o tímido delay na voz tímida do Bier em “Café”.
Ainda em “Café” poderá ouvir o baixo indo para o lado direito na parte em que o André canta “eu preciso, eu tenho é hora”.
Esses passeios pelo campo auditivo deram trabalho. Noventa por cento de uma mixagem consomem dez por cento do tempo. O resto do tempo é gasto nos dez por cento finais.
Quando achei que tinha terminado, queimei uma amostra do disco em um CDR e para cada um da banda. O Bier veio com um caderno cheio de anotações acerca da mixagem. Tinha dia que eu queria jogar meu computador no lixo. “Claire” deu um pau dos mais cabulosos. Perdi várias noites de sono pensando em um modo de esquentar as guitarras do riff de “Verniz”, que o André encanou dizendo que faltava “algo”.

Cara, tem que ser algo mais espacial, algo estelar” – Bier, sobre sua voz em “Se os astros e o universo convergem aqui”, de “Claire”.

Até eu viajei nessa onda. Mixando “Marina”, achei que faltava algo... Um cheiro. Água, terra... Frio. Chovia nesse momento. Liguei o microfone e captei a chuva.

Pelo o que nós nos propusemos a fazer, Marina está fantástica” – Beir, sobre não querer mexer muito na estrutura da música.

Põe um reverb nesse surdo” – Adhemar, sobre o início de “O que eu não vi em mim”.

Essa guitarra meio Chimbinha ta massa, hein?” – Publio, sobre uma guitarra swingada em “O que eu não vi em mim”.
Então eu desisti. Isso é o que temos pra mostrar. O melhor que pudemos fazer. Depois vem a neura: “Será que vão gostar?” O não a gente já tinha.

Pompeo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

CURIOSIDADES SOBRE OS INTEGRANTES - TIPO REVISTA CAPRICHO

Não são nenhum gatinhos... mas poderiam estar na revista capricho.

Publio (guitarra e voz) - Publicitário

Time - São Paulo
Comida - a mais junck possível.
Bandas Favoritas - Oasis, Keane, Coldplay
Jargão - "Na boa".


Bier (baixo e voz) diz ele que faz algo no ramo de literatura. Graduado em Ciências Sociais.

Time - Palmeiras
Comida - Salada. Também adora um bauru com suco de laranja.
Bandas Favoritas - Beatles e coisas estranhas em francês.
Jargão - "Daí"...

Adhemar (bateria) Advogado. O único com 4 certificados People computação.

Time - Palmeiras
Comida - é o magro que come de tudo.
Bandas Favoritas - Pink Floyd, Beatles, e tudo o que os outros da banda curtem.
Jargão - "Vai Palmeiras"!

André (guitarra e voz) graduado em Filosofia.

Time - Guarani de Campinas
Comida - pratos de pedreiro antes de sair pra tomar cerveja.
Bandas Favoritas - não tem.
Jargão - "É nói".

piadas internas à parte.

postado por Pompeo.

terça-feira, 2 de março de 2010

Fazendo um disco - Parte 3

Passarinho

Essa, que eu me lembro, ficou no impasse de se chamar ou Canarinho ou Periquito. Ou sei lá, qualquer Quero-Quero da vida... até mesmo Pica Pau. Resolvemos batizá-la de Passarinho, deixando a espécie por conta da imaginação de cada um. Na minha mente é um passarinho amarelo (seria um Periquito?).

Quando chegaram os maravilhosos recursos para captação de áudio - a placa de som, os microfones de bateria e um SM 57 - nos preparamos para a incrível jornada de gravar "Vejo Cores" - na época um disco ainda sem nome. Provisoriamente era chamado por mim de "Quando eu For Pro Mar".

O leitor pode perceber que tenho mania de fugir um pouco do assunto, mas sabe como é... Uma coisa leva a outra. Costumo escrever direto na caixa de texto do blog, de modo que tenho que respeitar minha hierarquia de pensamentos. Episódios dos Simpsons são assim - sempre começam numa perna e vão parar num olho.

Minha ideia de produtor musical era a de abrir "Quando eu For Pro Mar" com "Passarinho". Eu tinha em mente uma canção bem calma, iniciando o clima quase nublado, com ventos fracos porém gelados. Ainda bem que minha ideia foi por água abaixo, pois o disco abre com "Ninguém", seguido de "Alguém". Voltando da última masterização feita em São Paulo, Bier disse que fora uma feliz decisão colocar "Alguém" pra esporrar tudo logo de início.

Como a ideia era abrir o disco com "Passarinho", foi ela a escolhida de cobaia para nossa primeira experiência de captação fonográfica.

No primeiro dia de gravação nada aconteceu, pois o PC do André - usado para fazer as demos de "Encontro de Almas" e "Verniz" - não aguentou os oito canais da bateria ao mesmo tempo. Foi um rasgo no peito. Tínhamos tudo mas não tínhamos o PC ideal.

No dia seguinte corri para a Paula Bueno e deixei os vendedores de computador loucos. Me endividei e voltei para a casa do André com um Dual Core QUAD, 4 giga de Ram e 2 HD de 350 giga - seria suficiente? Meu amigo Fábio Boto disse que daria de sobra.

Ligamos tudo. Microfonamos a beteria com o Kit Samson no bumbo, tons e surdo. SM 57 na caixa e MXL como Over.

REC no SONAR e o PC foi que nem manteiga em pão quentinho.

Do mais, foi normal.

O disco foi gravado de 3 em 3 músicas. Fizemos a batera das 3 primeiras e assim por diante, baixo, teclados, guitarras e vozes. As firulas foram adicionadas posteriormente a todo esse processo.

Num determinado momento fiz uma besteira das mais imperdoáveis. Quis dar um bounce em "Passarinho" sem a placa de som plugada. Pra quem não sabe, bounce é quando você pega todas as trilhas gravadas de uma canção e a transforma em uma música. Ao fazer isso sem a placa, o Sonar fala algo assim, em gringuês dos mais malas de se ler "Cê tá loco? Fazer bounce sem a tua placa de som, onde tudo isso foi gravado? Você vai fazer merda, vai perder tudo!" Depois desse dia eu perdi a mania de apertar "ok" ou "cancelar" sem ler o que o software está me dizendo. O resultado dessa estupidez foi um belo fudeu (com perdão da palavra, mas foi tudo o que eu consegui dizer ao Publio e ao André) e os caras vieram tentar arrumar a burrada. Sorte que todos os arquivos, gravados em WAVE, ficam salvos no HD.

O que vocês ouvem no disco é um perfeito trabalho de colagem feito por André e Publio no Sonar. Quase perdemos essa canção maravilhosa. No fim tivemos que refazer apenas as vozes e algo de teclado, por falta de sincronia na hora da recuperação da música.

UFA!

Pompeo.