terça-feira, 4 de maio de 2010

QUANDO EU FOR PRO MAR

Tem coisas que me lembro como se fosse ontem. O dia em que André mostrou "Quando eu for pro mar" é um bom exemplo. Havíamos acabado de ensaiar, cansados, suados, com os ouvidos zunindo, e o André começou os acordes que iniciam essa fabulosa canção. Larguei meu cigarro (ainda fumava na época) e fui direto pra nossa salinha me juntar a ele.

- Essa é tua?
- É.
- Porra... Toca aê.

E ele foi, viajando, nas frases que me intrigaram e me intrigam ainda, junto da melodia que parece vir diretamente dos céus. Aí ela acabava em "vou parar de brigar com você". Sugeri em fazermos dessa faixa a mais longa do disco. O tal épico, que depois alguém descreveu em seu blog.

Essa foi a última que entrou pro disco, e a última a ser ensaiada. Foi parar em último lugar no disco porque era ali que era pra estar. Chave de ouro, como dizem por aí. Eu vejo assim: Quando você pensa que ouviu tudo nesse disco, vem "Quando eu for pro mar", e te pega pelo avesso.

Enquanto eles ensaiavam o começo da música, peguei o Eagle nylon do André e esbocei a parte que entra a batera. Apareci.

- Aí vocês podem fazer isso, o que acham?

Fizeram. Gostaram. Depois saí novamente e fui pro escritório da casa do André, que é onde fica o PC dele. Peguei o Eagle e esbocei mais uma passagem, aquela da guitarra no fone esquerdo, uma sequencia desigual para uma música que vinha numa lógica maior. Voltei e mostrei.

- O que acham?

Publio pegou rapidamente a coisa. Aí foi o André quem saiu da salinha de ensaio. Pegou um caderno e em 20 minutos rabiscou umas frases, que resultaram em "Te escondi naquilo que eu mais quero..." Depois disso, me vi possuído por uma coisa que chamam de criatividade. Eu não sei de onde tiro minhas idéias, mas elas costumam explodir em todo o meu ser - um mero clichê, eu sei, mas é assim que me sinto quando estou inspirado. Fiz, então, a sequencia martelo do acorde Dm - Dm5. Depois eu berrei.

- Então, depois de fazer quatro vezes isso, a gente volta em "Quando eu for pro mar, vou parar de brigar com você...".

Paramos e voltamos na sequencia do Dm... Quando fomos para o fim citado acima, vi um sorriso na cara do André. Liguei pra minha namorada imediatamente.

- Acabamos de fazer a malhor música do álbum.

Gravar essa faixa foi gostoso. Fluiu. Adhemar fez a sua sequencia de tambores no fim. Foi tudo muito foda. Viajamos em uma guitarra reverse, que ao vivo o Publio usa o E-Bow para simular. Tudo muito lindo.

É isso. Uma coisa que nunca sai da cabeça, como se tivesse acontecido ontem.

Pompeo.

3 comentários:

  1. A composição dessa música foi muito legal, e é com certeza uma das que eu mais gosto no disco por ser uma das mais coletivas e mais ousadas. Gosto muito da dissonância entre as suas partes - a primeira e última partes tão bonitas, tão sublimes - e a parte do meio tão suja, tão escancarada (sobretudo na letra, na qual procuramos conscientemente brincar com o sentido das frases para que elas soassem verdadeiramente sádicas, explicitando o desejo de machucar que muitas vezes existe dentro do desejo de amor).

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  2. Coisas geniais são assim... surgem meio que como "flash", aparentemente prontas, acabadas.

    "Quando eu for pro mar" surpreende pela "força" e pela rapidez que foi sua composição. Em 30 minutos de ensaio tinhamos uma música de quase 10 minutos absolutamente acabada.

    Que o ímpeto criativo não nos abandone, jamais!

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  3. Eu fiquei bastante tempo pra achar a letra do começo, fiz outras e outras...queria fazer algo com a força de over the rainbow na versao ukelele do gordão havaiano...como algo além do tempo ou na beiradinha.

    Tem várias idéias na letra...mas o geral q fica é essa mesma do over the rainbow, o dia q seremos felizes, aceitarmos a vida como ela é.

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