terça-feira, 16 de março de 2010

Como surgiu a Oito Mãos

Sinto estar em débito com vocês. A sentença que acabam de ler tem caráter ambíguo e deve ser interpretada em ambos os sentidos. Por isso, glorifico-me com a redenção desta postagem, na qual explorarei o início da banda e o por quê de se tornar independente, quando a execução de covers se mostra mais lucrativa.

A Oito Mãos não surgiu assim desde o início. Várias mãos passaram por aqui até a final composição: André Stradiotto Matins e Tiago Saura foram dois importantes personagens que, por circunstâncias da vida, não puderam estar conosco na atual empreitada.

Felipe Bier e Leandro Publio também já se aventuraram por outras bandas. Tocaram em casamentos e partilharam do comum – e necessário – início de qualquer banda: a execução de músicas cover.

Como a postagem é minha, falarei da experiência que partilhei. E começo minha jornada nos idos de 2000, quando cursava o 1º colegial juntamente com o Bier. Lá, um amigo em comum – André Stradiotto – fez despertar em nós o gosto pela música. Não que nós não a apreciássemos, mas não nutríamos interesse – na ocasião – por aprender a tocar um instrumento: eu queria ser advogado e o Bier, médico.

André nos levou a lojas de música em Campinas, onde tomamos contatos com vários instrumentos. Porém, em determinado dia, recordo-me de ter sido por ele surpreendido no meio de uma aula – salvo engano, de literatura –, onde bradou: “Adhemar, cê vai tocar batera”.

Fiquei com aquilo na cabeça... admirava o instrumento, mas nunca pensei em toca-lo. Minha mãe tinha violão e piano em casa e minha família é daquelas que acha que “bateria é coisa de louco”. No entanto, era o que eu queria.

Nesse mesmo momento, surgia em nós uma paixão quase que incondicional pelo grunge de Seattle – especialmente pela banda Nirvana. Sob influência do André, claro, ficamos “viciados” nas músicas do power trio Kurt, Chris e Dave. Só precisávamos adquirir nossos instrumentos.

Com o Bier a coisa foi mais fácil: ganhou um baixo Washburn e um amplificador Meteoro Thor na mesma semana. Eu, porém, enfrentei a insatisfação familiar pelo instrumento escolhido, percebendo que minha jornada seria um pouco mais difícil.

Assim, alguns meses depois, juntei uma (pequena) grana e comprei uma batera LIXO (lixo MESMO, do tipo que a gente joga FORA). Não tinha marca e nem peles de resposta. A caixa era Odery, de madeira, mas com afinações “de bicicleta”. O pacote incluiu, ainda, uma máquina de cymbal com os hi-hats absolutamente deploráveis. Mas eu estava feliz! Feliz por ter comprado a batelixo com O MEU dinheiro e feliz por enfrentar o preconceito dentro de casa.

Botei a monstruosa no meio da sala (morava em apartamento, na ocasião) e tocava todos os dias – mais pra mostrar a meus pais que não era “fogo de palha” do que pra praticar alguma coisa. E eles se convenceram de que aquela minha vontade não era passageira.

Minha sorte é que a batera era muito feia e muito ruim, o que acelerou o processo de sua substituição por minha atual Premier XPK Birch – presente de minha mãe. Ela foi utilizada em shows com as bandas pelas quais passei, bem como na gravação do “vejo cores nas coisas”.

Com os instrumentos, montamos a banda no final de 2000. O nome sugerido era ridículo para uma banda que se prestava a tocar as músicas do Nirvana: “Kaya”. Mas durou uns anos, até que crescemos, evoluímos e... nos separamos!

Entre indas e vindas, montei com outros garotos uma banda cover de Beatles, conhecida como “Silverbeetles”, até hoje bastante atuante. Não sei qual a atual formação, mas era muito boa na minha época. Tinha um garoto que era um verdadeiro gênio musical e outro que nos obrigava a ensaiar com MUITA DISCIPLINA – o que foi muito bom, pois criava na gente senso de responsabilidade musical e deixava as músicas redondinhas.

Ao mesmo tempo, tentava montar uma banda com projetos próprios com o Bier e com o Publio – que já era também, na ocasião, meu amigo-irmão.

Em determinado dia, por volta de 2004 ou 2005, deixei a Silverbeetles mais por estar de saco cheio de fazer cover do que qualquer outra coisa. Alguns me chamaram de maluco – visto estar a banda começando a chamar a atenção do público –, mas eu sou daqueles que acha que nós temos de correr atrás de nossos sonhos – e a minha “fase cover” tinha definitivamente passado.

Assim, foquei na banda com o Bier e Publio: procuramos integrantes que partilhassem nossos gostos musicais e, depois de muito tocar Oasis e Coldplay, encontramos o maluco do André Leonardo via Orkut: nascia o que hoje é a Oito Mãos.

O ano era 2005 e propusemos a criação de uma banda para trabalho próprio. Em pouco mais de quatro meses, gravamos um álbum/EP/demo com 08 músicas, chamado “inverno inusitado”. Inverno porque foi gravado em julho, e inusitado porque foi uma verdadeira atipicidade na vida de todos nós. E ficou legal – esteticamente falando. Em resumo: a idéia era boa, as músicas eram boas, mas a gravação foi ridícula. Não tínhamos experiência e o estúdio – que abstenho de citar o nome – muito, mas MUITO ruim.

Assim, não obtivemos retorno nenhum com o “trabalho”, até que o Pompeo nos ouviu sei lá como e notou algum potencial na banda. Nos conhecemos na padaria da esquina da rua do André, onde ensaiamos até hoje. E ele, com aquele jeito arrogante/fodão de ser, se tornou nosso amigo e acabou que hoje nos produz, gravando, compondo e tocando com a gente.

Desse casamento, surgiram nossos singles “sei lá”, “guarde a última dança”, “história de outra vez” – regravação do “hit” que constava no “inverno inusitado” – e “grave lacuna” – com a qual vencemos importantes festivais.

Gravamos, durante o ano de 2009, o disco “vejo cores nas coisas”. Nossa intenção – sem querer transbordar arrogância, mas justificando com o fato de não ser nossa pretensão o sucesso e o reconhecimento – foi fazer músicas que nós gostaríamos de ouvir, e não agradar ninguém. Assim, pode ter a certeza de que isso que você ouve em “vejo cores” é exatamente o que queríamos que estivesse ali, pois gostamos de tudo que fizemos.

Acho que falo pela banda toda quando digo que nos sentimos muito gratos com a repercussão do disco, não por querer fazer sucesso ou ser notados, mas por saber que tem mais gente por aí que pensa como a gente. Isso é muito bacana e gratificante, pois aquela sensação de vazio e insatisfação com tudo que a mídia nos “obriga” a ouvir não é um evento isolado nos sentimentos somente da Oito Mãos. E isso nos fortalece – tanto para compor e executar as músicas, quanto para gostar daquilo que fazemos – que é, tenha certeza, de coração.

Adhemar.

4 comentários:

  1. - já disse e não me canso de diser: vc é batera e não advogado.

    - eu que sou cusão ou vcs que deveriam ser mais? rs

    - massa saber essa parte da história.. eu não sabia.

    ResponderExcluir
  2. Belo post, Adhemar!!

    Só faltou uma informação: quando fazíamos 'aula de banda' na Cromat (aula de banda é uma coisa bizarra, mas era legal), o apelido do Adhemar era Adhemartelo: por que será? O rapaz achava que tinha que estourar os tímpanos de todo mundo pra mostrar que mandavam bem! haha...

    Mas a nossa banda tem muita história, daria caldo pra muitos posts!

    ResponderExcluir
  3. adhemartelo vem dai então...o faustão vive falando isso, hahaha.

    a batelixo foi pro lixo, tadinha.

    ResponderExcluir
  4. COntarei, no próximo post, o destino reservado à batelixo.

    ResponderExcluir