domingo, 14 de março de 2010

Fazendo um disco. Parte 5

ALGUÉM OU NINGUÉM?!

“Alguém” é uma das faixas mais antigas de “Vejo Cores Nas Coisas”. Uma música da época de “Sei Lá” e “Guarde a Última Dança”.
A primeira vez que a ouvi tive a mesma impressão que eu (interpretava) via no olhar das pessoas que ouviam a canção em uma apresentação da banda: aquele olhar de “que isso”?

“Alguém” é um esporro aos ouvidos. Uma porrada de mão fechada que te pega de surpresa bem no meio do estômago. Uma falta de ar, uma perda de raciocínio. Uma mistura de sentidos, dos pés à cabeça, dos olhos à boca, do coração ao pulmão. Dá vontade de ouvir de novo, mas o disco continua a partir dela.
Os mais sensíveis aos decibéis, não se esqueçam de levar tampões de ouvido numa eventual apresentação da Oito Mãos ao vivo.

Uma letra simples, porém impactante. “Alguém? Para amar... Cuidar, sonhar, proteger (...) deve existir. Alguém? VOCÊ!” – BUM! Esse “você” resume poeticamente o que o personagem da canção quer dizer, embora não saibamos exatamente quem é “você”, pois dá uma certeza absoluta de que não é com você, leitor e ouvinte, que o personagem está falando com a pessoa ao lado, ou seja lá quem for.

Deve ser uma pessoa ou um ser tão forte e absolutamente significante que cabe a
mim, a você e a todos nós juntos – do jeito que John Lennon canta em “I Am The Warlus”. Esse “você” é forte, depois de um lindo chá lá lá lá lá; é tão afortunado de emoções...

Confesso de que não lembro quando foi que tive a ideia de abrir o disco com essa, descartando de vez a hipótese de abrir com “Passarinho”.
Um dia fomos ao estúdio para mais uma sessão de gravações. Deveríamos estar um pouco entediados ou sem inspiração. O fato é que ficamos jogando tempo fora descobrindo os sons loucos que o teclado Roland Juno G proporcionava.

Empolgados com os sons, abrimos uma sessão no Sonar e gravamos um sarro que chamamos de “A de Adhemar”. Essa faixa só a gente ouviu. Rimos até a piada perder a graça. Ligamos um de nossos microfones MXL e fizemos uma evocação do ridículo que existe em cada um de nós. André imitou o Michael Jackson somado com um tal de IKY WIKY, Publio cantou “bum chacalaca” e Bier imitou o primo It da Famlila Adams. Eu cagava de rir. Adhemar não estava presente nesse dia, então dedicamos essa “música” para ele.

Claro, isso foi apagado. Devo ter os waves no HD, mas nem adianta me pedir para ouvir.

Ficamos com isso na cabeça. Uma faixa experimental. Então levamos a coisa a sério e criamos a faixa “Ninguém”. Peguei a guitarra Fender e afinei em Ré. Liguei ela no DD3 do Publio direto no meu Hot Road Deluxe. Fui tocando qualquer coisa. Depois adicionamos sintetizadores do maravilhoso teclado já citado. Depois demos um microfone pro Adhemar falar a palavra “Ninguém”.

Ficamos empolgados e ligamos um rádio sintonizado em qualquer emissora. Apertamos o rec, eis que surge José Serra falando o que você ouve, depois de uma locutora dando a chamada da entrevista.

No processo final,já nos últimos dias de mixagem, quando ela já estava na parte divertida, o fim, começamos a brincar de novo em “Ninguém”.

Abri a sessão de “Claire”, selecionei a voz do Bier em “Se os astros e o universo convergem aqui” e coloquei de trás pra frente.
Cagamos de rir. A coisa era sinistra e genial. É a primeira coisa que você ouve no disco.
Depois colocamos a minha voz em “os pés”, de “Encontro de Almas”, e fizemos o mesmo processo.
Pegamos “já posso aceitar a dor” do Publio em “Só”, e também retrocedemos.
Tudo nessa ordem. O André pediu para fazer o mesmo com a voz dele, mas eu neguei o pedido, alegando que já tinha muita voz dele no disco. Ele achou justo.

FOI ENTÃO, depois de ouvir o Serra, que achei que ia ficar perfeito o riff de “Alguém” comer solto.

Só não me lembro a ordem em que tudo isso se formou. Sei que “Ninguém” tem esse nome porque sabíamos que ela antecederia “Alguém”. Que seja... o fato é que a ideia de abrir o disco com “Alguém” veio no momento da bagunça de “A de Adhemar”.

Pompeo.

5 comentários:

  1. Um detalhe legal sobre "Ninguém" é que decidimos que ela seria uma espécie de Anti-música... por isso não teria compositor nem nada: é simplesmente ninguém.

    ResponderExcluir
  2. Cara, tem certeza de que a frase do Publio não veio de "O que eu não vi em mim"?

    ResponderExcluir
  3. Depois que li, tive que pegar e inverter a Ninguém! hahahahahahahah Só para ouvir as vozes 'certas', mas cheias de efeitos!

    ResponderExcluir
  4. Marcos, tire a nossa dúvida então sobre a última frase invertida! haha

    ResponderExcluir
  5. Acho que foi de 'O que eu nao vi em mim" mesmo, até lembro q qdo vcs tavam escolhendo trechos pra inverter falei
    -agora é minha vez, vai em 'oq eu nao vi em mim e pega'...

    O Publio disse que eu nao tinha pego o espírito da coisa, ahah, zoando... mas eu tinha pego sim, e isso logo ficou claro pq qdo invertemos o trecho e ficou bem massa, mega indiano no Himalaia.

    ResponderExcluir